A temática da Memória é central na construção das identidades, na compreensão dos processos históricos e no entendimento do presente. Assim, ao enquadrar memórias como relevantes, e acontecimentos e trajetórias como memoráveis, existe um exercício profundo de construção coletiva, formação cidadã e desenvolvimento cultural. A partir deste olhar, o projeto Territórios da Memória pretende contribuir com redes de atuação comunitária já existentes, para o mapeamento de memórias territoriais. Por meio de encontros e debates coletivos, fomentamos a produção de materiais artísticos de memórias, com objetivo de difundi-las em ações educativas e culturais.
Além do compartilhamento comunitário das narrativas e sujeitos relevantes para os territórios, a questão da Memória dialoga também com as heranças do passado autoritário nacional e as disputas a respeito dos sentidos do que foram os períodos de regime ditatorial, além dos quatro séculos de escravidão, sobre os quais ocorreu a fundação do país. A questão do direito à Memória, à Verdade e à Justiça (MVJ) traz a temática com grande fôlego, sendo uma prioridade de atuação do Instituto Vladimir Herzog. Nesse sentido, a perspectiva do olhar periférico é norteador do projeto, contribuindo com o debate de MVJ no Brasil.
A estratégia do Territórios da Memória consiste em conjugar a experiência e o conhecimento teórico e especializado nas pautas de Memória, Verdade e Justiça, com metodologias de construção de materiais de memória, com mapeamento de lugares, pessoas e narrativas fundamentais para a memória dos territórios. Nossa plataforma é um convite a todos e todas para refletirem sobre suas próprias trajetórias e contribuírem com esse processo vivo de síntese coletiva.
O projeto vem sendo desenvolvido desde 2019 em parceria com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo. Ressaltamos que o projeto só foi possível graças ao trabalho de articulação territorial, com um exercício de costura das redes de solidariedade e resistência já existentes. Neste ano de 2021, atuamos em São Paulo com o tema das “Permanências da ditadura nas periferia”. Contamos com quatro frentes de trabalho na cidade: Pirituba, na região Noroeste, com Simone Nascimento; na Zona Leste, com Cristina Assunção e parceria com o CPDOC Guaianás, representado no projeto por Adriano Sousa; no Campo Limpo e Capão Redondo, na Zona Sul, com Gisele Alexandre; e também na Zona Sul nos bairros de Jardim Ângela, Jardim São Luís e Capão Redondo, com o Bloco do Beco e apoio de Luana Oliveira. Agradecemos imensamente todo o empenho coletivo nesta construção, e seguimos na jornada de valorizar e visibilizar nossas memórias territoriais.